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Transcrição e tradução integral anotada das cartas dos índios Camarões, escritas em 1645 em tupi antigo

tuîxamonhangápe[1] || , ao fazerem chefes

oré[2] gûasembaba supé, || aos nossos chegados[3],

quartel nheme’enga. || quartel ser dado.

Peîmo’ang ymẽ || Não imaginem

apŷabaíba || os homens maus

oré suí pe pysyrõ. || de nós livrarem vocês.

I xupé nhõ || A eles, somente,

ã quartel nheme’engi. || esse quartel se dá.

Marãnamo, || Por quê,

sobaîygûaramo || como habitantes de outras bandas

sekóreme? || se eles estão?

Emonãnamo, petenhẽumẽ || Portanto, evitem que,

benhẽ abá || de novo, os índios

onhemomotabenhẽmo, || sejam atraídos ainda mais,

apŷabaíba maranirũnamo || dos homens maus sendo companheiros de guerra

o gûekorama[4] resé. || em suas futuras ações.

Naîpotarangaî benhẽî[5] || Não quero mais, de modo algum,

pe kanhema. || a ruína de vocês.

Emonãnamo, opamenhẽ peîor || Portanto, todos venham

xe ropenhana, || me encontrar,

ixébe peîkŷabo[6]. || junto a mim recolhendo-se vocês.

Xe nhyrõngatu ipóne || Eu hei de bem perdoar, certamente,

peẽmene || a vocês

opabenhẽ[7] mba’eaíba || [por] todas as coisas más,

pe remimonhangûera reséne[8]. || obra passada de vocês.

Kó nhõ pe posanga. || Este somente é o remédio de vocês.

Emonãnamo, pepu’ã[9] sesé, || Portanto, fiquem contra eles,

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  1. O tema nominal ubixaba (t) sofreu, aqui, síncope (> uîxaba) e, depois, apócope da sílaba final na composição com monhang.
  2. O próprio Pedro Poti tinha sido nomeado capitão e governador dos índios da Paraíba pelos holandeses. Daí, o uso do exclusivo aqui (ver a nota 21).
  3. Os holandeses tiveram no Brasil a política de fazer alianças com os índios por meio da concessão de liberdade a eles e da colação de cargos e títulos a seus chefes. Tais títulos (o de ‘capitão’, por exemplo), contudo, não eram reconhecidos pelos portugueses nem conferiam garantia de que suas vidas seriam poupadas no caso de um apresamento, como se fazia com os oficiais holandeses. Era conhecido o apreço que os índios tinham por tais títulos, honrarias e demonstrações de poder. É sabido, com efeito, que Pedro Poti “escreveu uma missiva ao Alto Conselho no dia 13 de dezembro de 1647, . . . . e pediu faixas, chapéus com plumagens para seus oficiais, e presentes para suas esposas” (Meuwese citado em Hulsman, 2006, p. 58).
  4. Havia frequentemente ditongação do possessivo reflexivo o (ow) antes de vogal: o ekó > ow ekó. A semivogal /w/ era representada nos textos antigos por g ou gu.
  5. Aqui, houve dupla marcação da forma negativa com o sufixo -i: ...angáî benhẽî.
  6. Verbo iké, eîké (t), ‘entrar’.
  7. No original, opauenhẽ (ver a nota 6).
  8. A regência do verbo îyrõ (ou nhyrõ) não é a mesma do verbo ‘perdoar’ do português. Nhyrõ, ‘perdoar’ > a alguém: com supé; algo: com esé (r, s).
  9. Forma variante de pu’am.