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Page:Retrato do Imperador Marco Aurélio (livro 1 das Reflexões).pdf/28

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13. Catullo advertio me que nunca desprezasse as quei-
xas dos meos amigos ainda que fossem destituidas de fundamento, e sempre me mostrasse para com elles o mesmo que era antes da queixa.

14. Meo irmaõ Severo me ensinon a amar a justiça, e a republica. Fez me tomar conhecimento com homens austéros na virtude, e firmes em seos principios como Cataõ, e Brutus. Inspirou me o plano de um governo popular onde o soberano quér, e defende a liberdade dos subditos mantendo a exacta observancia das leis. Devo àquelle irmaõ o prazer, que sinto, em fazer bem; o meo apêgo à philosophia; o amor à vida simples e sem fausto; o habito de naõ perder a esperança ainda nos revéses; a minha repugnancia em duvidar da affeiçaõ dos meos amigos; e a coragem necessaria para lhes dizer o que apróvo, ou repróvo no seo comportamento.

15. De Maximo aprendi a conservar-me sempre senhor de mim sem me deixar possuir da cólera, nem me aban-
donar ao descuido e indifferença; a tractar as pessoas, e os negocios sem azedume, ou impaciencia; a têr co-
ragem, e firmeza nos succéssos mais adversos; a ser accessivel e suave no tracto, e communicaçaõ dos ho-
mens, sem todavia me tornar demasiado facil, e familiar. Elle me ensinava com o exemplo; pois sempre fallava, ou procedia de modo que a sua franqueza, e a rectidaõ de seos principios se mostravaõ em todos os seos dis-
cursos, e acçoens. Era sempre moderado; sem cólera, nem precipitaçaõ; sem desconfiança, desalento, nem irresoluçaõ. Nunca deo motivo ou occasiaõ a sus-
peitar-se que desprezava os outros, ou presumia mais de si. Folgava muito de fazer bem; e era naturalmente pro-
penso a perdoar.