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Page:Retrato do Imperador Marco Aurélio (livro 1 das Reflexões).pdf/30

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16. Meo pae Antonino ensinon-me com o seo exemplo a ter clemencia; a ser firmne nas resoluçoẽs tomadas com madura reflexaõ; a nao me deixar seduzir pelas hon-
ras e adulaçoẽs; a achar prazer na assiduidade do traballo; e acolher sempre com particular attençaõ aquelles, que podem propôr alguma coisa util à re-
publica. Era elle sobremaneira cuidadoso e despachado em distinguir aquelles, que possuiaõ virtudes ou talentos; e nada o podia distrair, ou desviar de fazer justiça ao merecimento. Incapaz d’ invéja cedia sempre aos que tinhaõ mais talento, ou mais saber do que elle; e folgava mesmo de contribuir para a celebridade dos beneméritos. Sabia escolher, e conservar os seos amigos sem exigir nada d’elles. A sua amizade naõ era, como a dos corte-
zaons, um sentimento vivo quando nasce, mas de curta duraçaõ. Quer o prevenissem com attençoẽs, quer se des-
cuidassem d’ isso, sempre o achavaõ na mesma dispoziçaõ Nunca lisongeava o povo para conseguir acclamaçoẽs, antes muitas vezes as reprimia. Se dava espetaculos, fazia liberalidades, ou erguia monumentos, naõ tinha em vista a sua propria gloria, mas em tudo o que fazia só procurava a prosperidade da republica. Para acodir ás necessidades do imperio cortava os seos gastos particu-
lares; e antes queria ser taxado por sua parcimonia do que admirado por uma vaã ostentaçaõ de despeza com banquêtes, vestidos, e creados. Em seo atavio mostrava