Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 17, n. 3, e20210034, 2022
etenhẽumẽ || evita
ã karaíba || desses brancos
koîpó apŷabangaîpaba || ou índios maus
xe suí || de mim
ogû[1] apixara remirekó || as esposas de seus próximos
reroîabapara || que fazem fugir consigo
nhe’enga, xe nhe’ẽmo’anga mombe’u rerobîáne. || acreditar nas palavras, no contarem [deles] palavras fantasiosas de mim.
Memẽ ã karaíba || Sempre esses brancos
nde remikugûakaturamo || como o que é bem conhecido de ti
sekóû, || estão,
nhandé resé || em nós
ogû[2] emiaûsupotaramo[3]. || seus próprios escravos querendo.
A’e endébe || Eles para ti
nhe’engabyeteeté. || [são] muitíssimo transgressores das (próprias) palavras.
Osa’ang endébe, || Declaram-nas a ti
n’oîme’engangaî ahẽ || [e] não dão eles de modo nenhum
peẽme || a vocês[4]
quartel e’iba’e. || o quartel[5] que dizem.
Nhe’enga osa’ang peẽme. || Palavras dirigem a vocês (i.e., fazem-lhes promessas).
Marãnamo? || Por quê?
T’oîkó ymẽ ahẽ || Para que não estejam eles[6]
og[7] ubixaba reseká, || procurando seu próprio chefe[8],
t’oîkó nhẽ kó || para que estejam esses
ahẽ apŷabaíba irũnamo, || com aquele homem mau[9],
“-T’omarãmonhang ||“– Que lutem (eles)
o Capitão-Mor resé, || com seu Capitão-Mor
a’ereme t’arekó || e, então, hei de tratar
kó ahẽ remirekopûera[10] || essas esposas deles
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- ↑ Ver a nota 59.
- ↑ Ver a nota 59.
- ↑ Aqui, houve nominalização, ao incorporar o verbo um substantivo: emiaûsu-potar. Assim, formou-se o gerúndio com -ramo, como é próprio dos temas nominais.
- ↑ É comum, nestas cartas, usar-se a segunda pessoa do plural juntamente com a segunda do singular.
- ↑ Ver a nota 32.
- ↑ Aqui, Felipe Camarão refere-se a potiguaras que estavam do lado dos holandeses.
- ↑ Ver a nota 59.
- ↑ Isto é, o chefe dos índios, Felipe Camarão.
- ↑ Isto é, o capitão holandês.
- ↑ Veja-se, aqui, o uso de (p)ûer, expressando o tempo nominal passado: as esposas, os filhos e as filhas estão longe dos maridos e dos pais, que lutam na guerra. Atente-se também para a etimologia de temirekó: ‘a que se faz estar consigo’, ‘a esposa’. É forma causativo-comitativa do verbo ikó / ekó (t) – ‘estar’.