Poesias de Dom Pedro II/47
« O BESOURO ».
Poesia de Nadaud.
Dizendo ia a malta louquinha
De meninos crueis no gôzo:
Vamos, besouro, vôa azinha;
Acorda-te emfim, preguiçoso.
E o insecto, a aza entr’abrindo,
Busca sacudir o torpôr,
Grande esforço repetindo
Sem exito, e nāo sem dôr.
Zumbe, e emfim s’eleva do chāo;
Voa..., mas fio ligeiro
Detem-n’o, e, qual estála o balāo,
Naufraga n’arêa certeiro.
Inda s’eleva, e cambalhota,
Muito zombando os spectadores,
E diz ás creanças em risota,
Da queda curtindo mil dôres:
Sou artista, poeta sou,
Philosopho, e tambem sabichāo.
No meu retiro occulto estou,
Sonhando, ou dando meu cochilāo.
Vindes com esse discurso á tôa
Meu espirito perturbar;
Vamos, dizeis: vôa, vôa,
Toca a escrever, pintar, cantar.
E quando até novas alturas
Com vosso auxilio vou chegar,
Dizendo: fazei diabruras,
Vindes-me as azas quebrar.
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