Page:Transcrição e tradução integral anotada das cartas dos índios Camarões, escritas em 1645 em tupi antigo.pdf/5

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Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 17, n. 3, e20210034, 2022

Finalmente, há duas cartas escritas pelo capitão-mor Diogo Pinheiro Camarão, uma a Pedro Poti e outra a quatro capitães potiguaras que tiveram papel importante na guerra.

INFORMAÇÕES SOBRE OS REDATORES DAS CARTAS

FELIPE CAMARÃO

Antônio Felipe Camarão era o nome de batismo de um índio potiguara que nasceu em 1600-1601. Era filho de Potiguaçu, índio da aldeia do Igapó, situada na margem esquerda do rio Potengi, perto de Natal. Foi educado pelos jesuítas, de quem recebeu as primeiras letras. Casou-se com Clara Camarão, também uma índia potiguara. Tendo participado ativamente da resistência à dominação holandesa, recebeu, em 1633, do rei Filipe IV da Espanha e Portugal a patente de capitão-mor dos índios e, em 1635, o título de cavaleiro da Ordem de Cristo. Teve papel destacado na guerra que levou à expulsão dos holandeses do Brasil. Faleceu em 1648 (Hulsman, 2006).

CAPITÃO SIMÃO SOARES

O final da primeira carta apresenta uma mensagem assinada pelo capitão Simão Soares, da Paraíba. Ele era tio de Felipe Camarão. Segundo Raminelli (2015, p. 138), “. . . em 1625, na Baía da Traição, para libertar mulher e filhos do assédio batavo, Simão Soares passou para o lado do inimigo, ‘obrigado do amor que lhes tinha’”. Os holandeses partiram da Paraíba e, ao chegarem as tropas portuguesas, ele foi dado como aliado dos holandeses e permaneceu prisioneiro dos portugueses até 1633.

DIOGO DA COSTA

Era irmão mais velho de Pedro Poti e foi encarregado por Felipe Camarão de levar as cartas que este escrevera em 4 de outubro, mencionadas anteriormente. Por sua carta dirigida a Pedro Poti, datada de 17 de outubro de 1645, é que ficamos sabendo que era irmão legítimo deste.

DIOGO PINHEIRO CAMARÃO

Foi autor de duas cartas, ambas escritas em 21 de outubro. Uma delas era dirigida a Pedro Poti e a outra a quatro chefes indígenas que lutavam em favor dos holandeses, a saber, os capitães Balthazar Araberana, Gaspar Cararu, Pedro Valadina e Jandaia.

INFORMAÇÕES SOBRE OS RECEPTORES DAS CARTAS

PEDRO POTI

Pedro Poti era índio da Baía da Traição (chamada antes Acajutibiró) na Paraíba. Levado para a Holanda em 1625, ele se converteu ao calvinismo e aprendeu holandês. Após a invasão de Pernambuco em 1630, ele voltou ao Brasil e trabalhou como intérprete para os holandeses. A participação de índios falantes de holandês e oriundos da terra que se pretendia conquistar era, com efeito, um grande trunfo que os holandeses tinham em suas mãos, pois seria necessário apoio indígena para se conquistar a terra e se combaterem os índios aliados dos portugueses. Pedro Poti e Antônio Paraupaba poderiam, efetivamente, conseguir alianças com tais índios (Raminelli, 2015).

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