Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 17, n. 3, e20210034, 2022
Gûyratiamygûara[1], || os (habitantes) de Guiratiamim,
opabenhẽ || todos
ka’atingygûara ra’yrûera, || os antigos filhos dos habitantes da caatinga[2]
tekokugûabe’yma rekó rupi, || dos desatinados segundo a lei (estão),
nde reté || teu corpo
memẽ nde ‘anga. || [e], mais ainda, tua alma (estão).
Endé i mokanhema benhẽ nhã[3] suí é || Para tu não os arruinar novamente, como de costume,
ã xe nhe’enga || estas minhas palavras
aîmondó endébe || envio a ti
apŷabaíba suí || dos homens maus
nde semagûama resé. || para tua futura saída.
Emonãnamo, || Portanto,
t’ereîmoabaíbyne || hás de dificultar
apŷabaíba suí || dos homens maus
opabenhẽ nhandé anama || de todos os nossos parentes
rerosemagûama? || a futura saída contigo?
N’iî abaibangaî || Não é difícil, de modo algum,
endé ãgûa rerosema, || tu a eles fazer sair contigo
endé i potareme. || no caso de tu o quereres.
Emonãnamo, || Portanto,
etenheumẽ || evita
ã nhandé anama || desses nossos parentes
tekokugûabe’yma || insensatos
rekó rupi || segundo a lei
eîkóbo[4], || estar,
enhemokanhẽetekatûabone. || desgraçando-te muitíssimo.
Emokûeî[5] bé nde rybyra, || Também esse teu irmão mais novo,
Dom Diogo Pinheiro, || Dom Diogo Pinheiro,
aîmondó ebokûé koty, || envio para aí,
kûépe || para longe
nde sẽme[6] || no caso da saída de ti.
apŷabaíba suí, || dos homens maus,
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- ↑ Composição de gûyrating + ‘amĩ (‘garças que ficam em pé sem se mexer’) + sufixos -ygûar-a: ‘moradores (do lugar) das garças imóveis’.
- ↑ Filhos da caatinga – designa os índios de língua tupi que viviam no sertão nordestino e também os índios tapuias, isto é, os de outras línguas indígenas.
- ↑ Forma nasalizada de îá (advérbio) – ‘de costume’, ‘habitualmente’, ‘amiúde’: Xe poronupã îá. – ‘Eu açouto gente, de costume’ (Anchieta, 1595, 51v).
- ↑ A partícula etenheumẽ leva o verbo para o gerúndio.
- ↑ Variante de ebokûeî, encontrada somente nestas cartas.
- ↑ Sem + -(r)(e)me: ‘no caso da saída’.