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Transcrição e tradução integral anotada das cartas dos índios Camarões, escritas em 1645 em tupi antigo

nde rekó? || tu estares?

Opab ygûã || Tudo já,

nipóne || com certeza,

turusuba’e || o que é grande

ererekó || tens

nde pópe ko’y. || nas tuas mãos agora.

Ma’e abépe || Que mais

ereîpotarybé i xuí? || queres ainda deles?

Nde reté é ã || Tu és verdadeiro, mesmo,

saûsupápe eîkóbo, || a amá-los estando,

christãoramo || como cristão

nde rekó pupé, || em tua condição,

nde reté || teu corpo

memẽ nde ‘anga || [e], mais ainda, tua alma

mokanhẽeté potá? || querendo arruinar, na verdade?

[1] nde rekó || Esse teu proceder

n’a‘ekatuî || não posso,

nhẽ[2] sepîaka, || sem mais, vê-lo,

nde raûsupa é. || por te amar[3] de verdade.

Kó nde rekorama resé || Acerca daquilo que farás

oromongakugûá[4] || informamos-te,

xe robaké || diante de mim

nde rureme. || se vieres.

Opabenhẽ kó yby pupé, || Em toda esta terra

ma’eaíba || as coisas más,

nde remimonhangûera resé || obra passada de ti,

a’ekatu[5], || posso,

xe robaké || diante de mim

nde rureme, || se tu vieres,

xe nhyrõnamo[6] endébe, || perdoar eu a ti,

xe remimotara rupikatu. || inteiramente por minha vontade.

Emonãnamo, || Portanto,

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  1. pode ser usado tanto como dêitico quanto como anafórico. Pode mostrar o que está perto (função dêitica) ou fazer referência a algo que já foi mencionado (função anafórica). Neste caso, é traduzido por ‘esse’, e não por ‘este’.
  2. N’a‘ekatuî nhẽ sepîaka... – A particula nhẽ expressa o aspecto lusivo, “indicando que alguma coisa é feita sem interesse, por fazer”: Asó nhẽ. – ‘Vou por ir’ (sem algum fim) (Anchieta, 1595, p. 54).
  3. Nde raûsupa é – Houve outra vez, aqui, o emprego do gerúndio causal.
  4. Note-se que, em oromongakugûá, oro é morfema número-pessoal objetivo. Não deve ser confundido com oro da 1ª pessoa do singular exclusivo.
  5. Verbo ‘ikatu / ‘ekatu, ‘poder’.
  6. Temos aqui o gerúndio que o verbo (a’ekatu) exige.