Jump to content

Page:Poesias de Dom Pedro II.pdf/36

From Wikisource
This page has been proofread.

12

 

N՚um vāo estreito, dentro d՚esse forte
Que a chamar-se da fome de mim veio,
E onde a outrem aguarda triste sorte,
Assaz pela setteira o disco cheio
Vira eu da lua, quando um pesadelo
Rasgou-me do futuro o véu ao meio:
Qual dono e amo á caça, posso crêl-o,
D՚um lobo e lobosinhos na montanha
Que ao de Pisa o de Lucca impede vèl-o,
Magras cadellas em constante sanha,
Os Lanfrancos, Sismondis collocando
E Gualandos na frente da companha;
Mas na curta carreira já cansando
Pae e filhos, agudos dentes vāo
Seus membros com furor atassalhando.
Antes d՚aurora me acordei e entāo
Ouvi meus filhos, junto do meu lado
Chorar dormindo e me pedirem pāo.
És bem cruel, se já nāo estás magoado
Do que meu coraçāo me adivinhava,
E, se nāo choras, de que tens chorado?
Accordados, a hora já chegava,
Que soiāo trazer-nos a comida,
E cada um com o sonho vacillava.
Eis que ouvi que fechavāo a sahida
Da horrivel torre; logo o rosto olhei
De meus filhos sem dar signal de vida.