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Valmundo para as margens do Istro, e egualmente
Viaja p’ra casa o Anjo, e a côrte magestosa,
Que o segue pela Italia a torna mais garbosa,
Cidades percorrendo, villas triumphante
Até a de Salerno, e o mar d’ahi em diante.
Já dentro de Palermo estando descansado,
E do grande salāo no throno reclinado,
Ao ouvir do convento o sino das Trindades,
Qual entre céos e mundo troca de saudades,
Acêna a El-Rei Roberto para se chegar,
E a todos mais d’um gesto fal-os retirar;
Logo que ficāo sós, o Anjo entāo lhe diz:
« És El-Rei? » E Roberto curva-lhe a cerviz,
E, cruzadas as māos no peito penitente,
« Tu o sabes melhor », responde brandamente,
« Minhas culpas enormes só n’algum convento,
« Schola de contricçāo, as lava o arrependimento.
« Deixa-me pois do Céo trilhar a aspera verêda
« Descalço, até que um padre a graça me concêda. »
Sorri-se o Aujo. Da face bella e radiante
Sae luz santa, que o paço torna fulgurante,
E das janellas sôa em alto diapasāo
Dos monges, na capella, ograve cantochāo,
Que da rua o tumulto excede e o ruido:
« Os potentes depōe do Solio o mais subido,
« E do infimo pó exalça-os no outro dia.»