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Roberto, o histriāo, remette pela gente
Té a elles chegar, e grita em voz fremente:
«Eu sou El-Rei! Olhue e em mim reconhecei
« Roberto, vosso irmāo, e da Sicilia Rei!
« Este, que a vossos olhos rouba-me as feiçōes,
« É misero impostor, só rei nas illusōes.
« Pois nāo me conheceis? Pois nada em vós latente
« Responderá por mim, que sou vosso parente? »
Cala o Papa, e com ares d’homem qu’inda hesita,
Do Anjo o sempre sereno rosto ein balde fita;
Sorri-se o Imperador, e diz: « É bem achado »;
E o pobre do truāo, juguête da desgraça,
Lá vae aos empurrōes da bruta populaça.
Passa a Semana Santa em festas veneraveis.
E a Paschoa doura as nuveus de tons admiraveis.
Co’a presença do Anjo pura e radiante.
Já tudo antes da aurora torna-se brilhante,
E entāo novo fervôr os corações incita
Que sentem que deveras Christo resuscita
Até mesmo o jogral das palhas do seu leito,
Com olhar espantado, observa o raro effeito,
Sente em si um poder ignoto até entāo
E, arrojando-se humilde sobre o duro chāo,
Ouve o leve roçar das vestes do Senhor,
Que varre o ar serano e sobe ao Creador.
Já termina a visita, e volta incontinente