Jump to content

Page:Poesias de Dom Pedro II.pdf/182

From Wikisource
This page has been proofread.

84

Nāo foi sonho; que o mundo d’elle tanto amado
Tornou-se cinza e pó por elle o ter tocado.
Dias vem, dias vāo, e volta em novo turno
Á Sicilia o reinado antigo de Saturno.
Sob as vistas do Anjo todas paternaes
Folga a ilha feliz em vinhas, cerenes;
E no fundo do seio ardente das montanhas
Encelado, o Titāo, quieto nāo se assanha.
Emtanto El-Rei Roberto rende-se a seu fado
Sempre triste, em silencio e tāo desconsolado,
Vestindo os matizados trajes de truāo;
Desgarrado o olhar; vista sem direcçāo;
Um cercilho, qual frade, tendo bem completo,
De motejos a nobres e pagens objecto;
Sendo só seu amigo o môno, e alimento
Só restos, conservava indomito ardimento
Se o Anjo o encontrava e, seu caminho andando,
Dizia meio serio e já meio brincando,
Tôrvo o rosto; mas terno, até elle apalpar
Se em forro de velludo o aço pode achar:
« És El-Rei? » A paixāo que o peito assoberbava
Em violentas torrentes logo transbordava,
Erguia nobre a fronte, e nāo como sandeu
Jogava esta resposta; « El-Rei, El-Rei, sou eu! »
Lá vāo quasi trez annos, e eis que sāo chegados
De nome e grão conceito varios enviados,