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Page:Poesias de Dom Pedro II.pdf/178

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Despojado das galas, trajes sumptuosos;
Bufando, sem chapeo, cara e membros cenosos,
Do ultraje e da affronta cheio o coraçāo.
Vae n’um pulo do paço ás portas qual trovāo,
Rompe por cortesāos; derriba em seus furores
A direita, á esquerda, pagens e senhores;
Cavalga a escadaria extensa e retumbante,
Livida a face, á luz das tochas deslumbrante.
Salas passa, mais salas; rapido, arquejando,
Ouvindo vozes, gritos; mas nāo attentando,
Até chegar, emfim, às salas dos banquetes
Que resplende de luz, recende de pivêtes.
Lá se assenta outro rei, debaixo do docel,
Trazendo seus vestidos, c’rôa e seu annel,
Qual Roberto em feiçōes, na forma, na ’statura,
Mas resumbrando luz d’empyrea creatura.
Era um Anjo de Deus, entāo n’esse local,
Que enchia todo o ar de brilho divinal;
E embora entre o disfarce o bello transpareça,
Ninguem ha que o occulto Anjo reconheça,
Mudo um instante, immovel, abysmado;
O rei sem throno encara o celico enviado,
Que fita os seus olhares d’ira, e d’anciedade
Co’a vista a mais divina e cheia de piedade.
E diz-lhe entāo: « Quem és? Por que razāo tu vens?»
Roberto respondeu, soberbo em seus desden-: