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Page:Poesias de Dom Pedro II.pdf/176

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A igreja vasia, e luz nenhuma dura,
Excepto um lampadario aqui , ali mortiço,
Bruxoleando no altar, dos Santos em serviço.
Salta do sitial, pasmado olha p’ra tudo;
Nem viva alma; só vê espaço vasto e mudo.
Tacteando busca as portas; todas estāo fechadas.
Grita em voz alta; escuta, dá pancadas;
Solta ameaças horriveis e lamentaçōes,
Contra homeus e santos mil imprecaçōes;
E vāo reboando os sons por tectos e muralhas
Como padres a rir envoltos nas mortalhas.
Gritos, pancadas ouve, emfim, o Sachristāo;
Julga que sāo ladrōes na casa da oraçāo;
Entra com a lanterna, e inquire: « Quem ’stá hi ? »
De raiva e furia arfando, El-Rei lhe diz : « Abri;
Sou El-Rei! Tens receio ? » O timido Sachrista
Pragas resmoneando, logo que o avista,
Exclama; « É um vagabundo bebado, ou peior. »
Volta dá ao chavāo, abre o portal maior.
Entāo roça por elle alguem, n’uma passada - ,
Feroz e meio nú; sem chapeo, sem mais nada,
Que nem mesmo se volta, ou olha, nem lhe falla;
Mas lança-se oude a noite escura mais se cala,
E dos olhos qual spectro esvae-se sobr’humano,
Roberto de Sicilia, irmāo do Papa Urbano,
De Valmundo tambem, Imperador Germano,